António Augusto de Miranda com a sua mulher Emília da Conceição e os filhos José e Fernando Celso
Notas biográficas redigidas pelo filho mais novo, Fernando Celso
Nasce a 28 de Janeiro de 1886 na freguesia da Glória,
em Aveiro.
Cedo passa a viver em Alquerubim na companhia da Mãe e
onde conclui a instrução primária.
Passa a frequentar o liceu de Aveiro, onde é acolhido
pelo Padre Jorge de Pinho Vinagre, muito amigo da Família.
Pouco interessado pelos estudos e "... porque
dele se esperavam mais altos voos..." (conforme ele próprio diz em Mensagem, Boletim Informativo da
freguesia de Alquerubim), é internado no seminário dos Carvalhos. Ainda nas
suas palavras: ... ali, desabituado como ia, do contacto com os livros, lá fui
satisfazendo, conforme pude, as exigências dos professores, e chegaria ao fim
se, com a idade não surgisse um problema capital: reconheci que não tinha
vocação para a vida eclesiástica. Creio que foi a melhor decisão da minha vida,
o abandono da carreira por reconhecer falta de aptidão para ela, que considero
de todas as carreiras a mais melindrosa que a um homem é dado abraçar... nunca
tomei encargo de ocupação quando não sentia forças para a cumprir. Por isso
abandonei o Seminário.
Regressa a Aveiro para concluir habilitações de
ingresso na Faculdade de Direito. A Mãe, Mulher de grande tenacidade, sempre
acalentara a ideia de ver o seu filho formado. Sem recursos financeiros, aluga
casa em Coimbra em que passa a receber hóspedes estudantes. O filho, por seu
lado, ajudava à economia doméstica tocando violino.
Ele conta: "De tudo o que estudei em rapaz, o que
mais me agradava era a música e, ao passo que as matérias da escola me eram
impostas pela obrigação (e era, talvez por isso que eu as detestava sendo,
consequentemente, um mau estudante), a música, que por mero acidente da vida,
entrou no activo das minhas ocupações, não precisou do imperativo da disciplina
escolar e doméstica para que eu a cultivasse como o mais agradável dos meus
passatempos. Tinha eu cerca de 15 anos, um percalço num pé impedia-me de me
calçar e caminhar, determinando a perda de um ano, porque tive de ficar em casa
durante alguns meses. Paroquiava a freguesia de Alquerubim o Padre Narciso da
Silva Nunes, que tinha uma bela voz de tenor e sabia música. Notou ele em mim
gosto pela música e vontade para aprender oferecendo-se para me ensinar. E,
assim, ia eu todos os dias à Residência, sobraçando o livro de solfejo e
claudicando da minha perna doente. O estudo era pela forma que melhor quadrava
a quem, como eu, não possuía um instrumento e que ainda não pensara em qual
havia um dia de aplicar os meus conhecimentos musicais: eram vocalmente as
notas entoadas em dueto, o professor cantando a segunda voz, acompanhando a
primeira, que eu, na minha fraca sonoridade, lá conseguia entoar. Isto me valeu
de muito, mais tarde, no estudo do violino, quando me decidi por este
instrumento. Em boa hora aceitei a oferta do Padre Narciso, que me iniciou na
cultura da música e, em boa hora me dediquei ao violino que mais tarde se me
havia de tornar companheiro inseparável na conquista do pão durante a minha
formatura em Direito".
A prática do violino foi um hábito que cultivou
durante muitos anos, acompanhado ao piano por minha mãe. É uma das poucas
recordações da minha infância que deles conservo.
Casa em 30 de Junho de 1918 em Alquerubim com Emília da Conceição Almeida que seria minha mãe e de outro filho, mais velho.
Em 1918 o casal reside em Coimbra.
1919 - reside em Alquerubim possivelmente para meu pai
tentar a advocacia.
Decide-se, porém, pela Magistratura concorrendo ao
lugar de Conservador do Registo Predial nas Colónias (os C.R.P. do Ultramar, a
par de Delegados, podiam candidatar-se aos lugares de Juízes de Direito) é
colocado em Tete, onde se encontra nos finais do ano de 1921.
1922 a 1926 - Delegado em Moçâmedes para onde fora
transferido a seu pedido (todas as deslocações por transferência foram, de
resto, feitas a seu pedido). É promovido a juiz.
1927 e parte de 1929 exerce as funções de juiz na
comarca de Silva Porto, em Angola.
1929 transferido para a comarca de Salcete, em Margão.
Toma posse do cargo em 22 de Novembro de 1929.
1930 a 1934, juiz na comarca de Lourenço Marques onde,
em 1933 enviúva.
1935 contrai segundo matrimónio com Alzira Perdigão
Pessoa, em Fevereiro.
Juiz da comarca de Macau desde Março de 1935 a Agosto
de 1939. Promovido a juiz da Relação, é colocado em Luanda.
Transferido de Luanda para Pangim em data que
desconheço, aí permanece 4 anos, o mesmo se passando com a nova transferência
para Lourenço Marques.
Pouco sei do período entre 1939 e 1945. Decorria a
Segunda Guerra e as dificuldades de comunicação eram imensas. Das cartas que
escrevíamos, só algumas chegavam ao destino. As poucas que recebíamos eram, por
vezes, incompreensíveis em virtude dos cortes que a censura dos serviços
secretos aliados faziam.
Transferido para o quadro da Metrópole, é colocado na
Relação de Lisboa em 1948.
Adoece gravemente pelo que requer a aposentação
passando a residir em Alquerubim com a Mulher de quem enviúva em 1952. Sozinho
e cansado, passa a dividir o tempo entre Alquerubim e a companhia dos netos,
nora e filho mais novo, em Vila da Feira.
1964 falece em nossa casa, na Vila da Feira, no dia 26
de Janeiro tendo sido sepultado em Alquerubim no dia em que completaria 78 anos
de idade
Em 1914 publicou um livro de contos "Os Meus Ídolos" e, em data que desconheço, outra obra, "Scenas daAldeia".
Em 1928 publica "Manual Teórico e Prático dosJuizes Municipais, Instrutores e Populares", obra que é reeditada em 2.ª
edição em 1949 de cujo Prólogo extraio:
"Duas razões determinaram que eu publicasse esta
Segunda edição. Uma delas é a boa aceitação que teve a primeira, o que me foi
certificado pelo facto de ela se ter esgotado e pelo desejo dos funcionários
administrativos, repetidas vezes terem manifestado vontade e interesse em
possuírem uma edição actualizada...
A segunda razão é de ordem sentimental - tecla que não
é vedado a um Juiz tanger em todas as circunstâncias da Vida. Não é impunemente
- deixem-me usar do lugar comum! - que se passam 28 anos nas Colónias nos quais
está incluída uma boa porção dos melhores da minha vida. Tudo o que diz
respeito às Colónias me toca a inteligência e o coração. Compreende-se, por
isso, o interesse que ainda em mim despertam os serviços de Justiça
ultramarinos, que eu sempre procurei dignificar e que ainda há poucos meses
deixei."
1916 - Foi Director de O Progresso de Alquerubim, jornal de que foi um dos fundadores.
Dezembro de 1956 a Janeiro de 1962, colabora em
Mensagem, despretensioso Boletim da freguesia de Alquerubim em que, mensalmente
publicou pequenas crónicas. Redigidas em linguagem muito simples, como
convinha, dado o público a que se dirigia, nelas retratou uma personalidade
humilde e despretensiosa, a sua.
(Fernando Celso Almeida de Miranda)
Sem comentários:
Enviar um comentário