Recordando, abril de 1960


O meu cantinho de hoje é quase exclusivamente ocupado pelas fotogravuras da igreja de Alquerubim, como prometi no número 48 de «MENSAGEM». Uma apresenta a igreja no estado em que se encontrava ao iniciarem-se as obras de restauro e ampliação, iniciadas por volta de 1912 e terminadas em 1915, como se pode ler no alto da frontaria da segunda fotogravura.
O templo, na primeira forma, era um edifício baixo, de linhas desproporcionadas. Não tem história, isto é, não se sabe quando foi construído, havendo quem afirme que, antes dele, existiu outro, situado na base do outeiro do Pereiro, junto ao Cerrado (caminho do Ameal).
Na segunda forma, ficou um templo elegante: — externamente, pela sua altura, proporcionada à largura. Aproveitaram-se as paredes do edifício e da torre, que foram elevadas, como mostra a fotografia, e acrescentadas ao fundo. Tudo o que vai do arco cruzeiro para diante e que constitui a capela-mor, foi acrescentado. Isto não se nota na fotogravura da segunda forma.
Na primeira nota-se um defeito de falta de luz. Não pude obter outro exemplar, possivelmente mais perfeito. É pena, porque o grupo de pessoas que nele se nota merecia ficar aqui arquivado, de forma reconhecível. Nele figura a silhueta do prior da freguesia, que nesse tempo era o Padre Francisco Marques Pires de Miranda, personalidade interessantíssima pela sua animada conversa, alimentada por uma cultura vasta que encantava pela forma como era denunciada, sempre polvilhada de graça que era um dom natural.
Creio que a nossa igreja é, hoje, uma das mais bonitas da diocese de Aveiro. Para o seu estado actual muito concorreu o pároco, Padre Miguel da Cruz. São obra do seu esforço o restauro dos muros do adro e o gradeamento, com seus portões, isro quanto ao exterior. No interior deve-se-lhe o douramento da talha dos altares, trabalho que, pela sua natureza, é caro.
Felizmente — e por isto devemos dar graças a Deus — temos tido, principalmente nos últimos anos, párocos dotados de qualidades de trabalho e dedicação às coisas da Igreja e da freguesia, que os tornam credores da nossa gratidão.
Bem merecem, por isso, que a sua obra fique, nas suas manifestações externas, arquivadas nas páginas deste jornalzinho, para o que concorrerei, e com sumo gosto e enquanto Deus mo permitir, dentro das minhas possibilidades e das minhas forças.
(in Mensagem de 15 de abril de 1960)
António Augusto de Miranda

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