Recordando, novembro de 1961


O adro da igreja
O adro da Igreja matriz, em toda a parte é a sala de visitas da freguesia, e assim o compreendeu a nossa Junta de freguesia, que mandou ali colocar uns bancos, que são as verdadeiras poltronas da sala. Em dias de canícula ou noites quentes e luarentas, sabe tão bem um pouco de repouso naqueles bancos, à sombra das frondosas tílias que embelezam o largo, como o abandonar do corpo no saboroso aconchego de fofas poltronas.
Bem merecia o local o melhoramento, depois da igreja caiada, os muros alinhados com portões e remates de ferro rendilhado e o piso da praça alcatroado. Outro melhoramento foi a reparação e renovação do prédio do Sr. Manuel Ferreira, mesmo na face fronteira à igreja, e por último a reparação da fachada da residência paroquial. Até a parede da antiga residência, que não quer fugir à companhia dos imóveis que rodeiam o adro, até essa levou uma ensaboadela, ficando de cara lavada para não destoar e não fazer má figura. Falta apenas vestir camisa lavada aos mamarrachos que fecham o Adro do lado Norte e do Sul, cuja fealdade está a prejudicar a estética do airoso adro da linda igreja.
Mas não é tudo. Vem aí o dia das Pastorinhas, que chamam à freguesia muitas centenas de visitantes.
Pois é necessário que desapareça do adro tudo quanto ali está a mais e que sobrou das obras que lá se fizeram.
Acabadas estas, devem desaparecer todos os desperdícios e não desperdícios que ali se colocaram, do lado Sul, e que estão a dar ao local uma aparência de despejadouro de sobras. Retirar tudo aquilo dali não é obra que exija esforço de Hércules. Ao nosso estimado Prior e à nossa simpática e benquista Junta aqui fica o pedido, formulado por quem bem os estima.
Depois virão os elogios e os agradecimentos das centenas de pessoas — de cá e de fora — que ali se hão-de juntar e não regatearão louvores a quem concorreu para lhes proporcionar o gozo que dão as coisas que se nos apresentam em devida forma de utilização.
Para o local ficar completo, falta, como digo acima, o alindamento dos lados Norte e Sul. Isto, no que se refere à beleza do local. Se fosse possível (mas isto não o é), ficava ali muito bem um sinaleiro, como medida de segurança de quem precisa de utilizar o cruzamento. Muito previdentemente, foram ali colocados uns sinais de trânsito que são o suficiente para regularizar o movimento de veículos. Seta apontando para um lado, letreiro indicando a direcção para outro, tudo ali há na medida do necessário para evitar choques e aborrecimentos. Pois o número dos distraídos (e dos indisciplinados) é tão grande, que volta e meia assiste-se ao espectáculo — perigoso e irritante — de um veículo, indo de Leste para Sul, atravessar o largo em diagonal, para não atrasar alguns segundos na sua viagem.
Há pessoas que andam sempre com pressa, mas na minha já longa vida tenho notado que essas pessoas não chegam mais depressa ao seu destino do que aquelas que andam com cautela e sem pressas inúteis. E até, por vezes, não chegam nunca.
(in Mensagem de 15 de novembro de 1961)
António Augusto de Miranda

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