O adro da igreja
O adro da Igreja matriz, em toda
a parte é a sala de visitas da freguesia, e assim o compreendeu a nossa Junta
de freguesia, que mandou ali colocar uns bancos, que são as verdadeiras
poltronas da sala. Em dias de canícula ou noites quentes e luarentas, sabe tão
bem um pouco de repouso naqueles bancos, à sombra das frondosas tílias que
embelezam o largo, como o abandonar do corpo no saboroso aconchego de fofas
poltronas.
Bem merecia o local o
melhoramento, depois da igreja caiada, os muros alinhados com portões e remates
de ferro rendilhado e o piso da praça alcatroado. Outro melhoramento foi a
reparação e renovação do prédio do Sr. Manuel Ferreira, mesmo na face fronteira
à igreja, e por último a reparação da fachada da residência paroquial. Até a
parede da antiga residência, que não quer fugir à companhia dos imóveis que
rodeiam o adro, até essa levou uma ensaboadela, ficando de cara lavada para não
destoar e não fazer má figura. Falta apenas vestir camisa lavada aos
mamarrachos que fecham o Adro do lado Norte e do Sul, cuja fealdade está a
prejudicar a estética do airoso adro da linda igreja.
Mas não é tudo. Vem aí o dia das
Pastorinhas, que chamam à freguesia muitas centenas de visitantes.
Pois é necessário que desapareça
do adro tudo quanto ali está a mais e que sobrou das obras que lá se fizeram.
Acabadas estas, devem desaparecer
todos os desperdícios e não desperdícios que ali se colocaram, do lado Sul, e
que estão a dar ao local uma aparência de despejadouro de sobras. Retirar tudo
aquilo dali não é obra que exija esforço de Hércules. Ao nosso estimado Prior e
à nossa simpática e benquista Junta aqui fica o pedido, formulado por quem bem
os estima.
Depois virão os elogios e os
agradecimentos das centenas de pessoas — de cá e de fora — que ali se hão-de
juntar e não regatearão louvores a quem concorreu para lhes proporcionar o gozo
que dão as coisas que se nos apresentam em devida forma de utilização.
Para o local ficar completo,
falta, como digo acima, o alindamento dos lados Norte e Sul. Isto, no que se
refere à beleza do local. Se fosse possível (mas isto não o é), ficava ali
muito bem um sinaleiro, como medida de segurança de quem precisa de utilizar o
cruzamento. Muito previdentemente, foram ali colocados uns sinais de trânsito
que são o suficiente para regularizar o movimento de veículos. Seta apontando
para um lado, letreiro indicando a direcção para outro, tudo ali há na medida
do necessário para evitar choques e aborrecimentos. Pois o número dos
distraídos (e dos indisciplinados) é tão grande, que volta e meia assiste-se ao
espectáculo — perigoso e irritante — de um veículo, indo de Leste para Sul,
atravessar o largo em diagonal, para não atrasar alguns segundos na sua viagem.
Há pessoas que andam sempre com
pressa, mas na minha já longa vida tenho notado que essas pessoas não chegam
mais depressa ao seu destino do que aquelas que andam com cautela e sem pressas
inúteis. E até, por vezes, não chegam nunca.
(in Mensagem de 15 de novembro de
1961)
António Augusto de Miranda
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