Esta particularidade de freguesia
de Alquerubim, de não ter, nenhum dos lugares que a compõem, o nome da
freguesia, causa uma confusão que desnorteia quem não conhece essa particularidade.
Sim: a freguesia de S. João de
Loure tem o lugar de S. João de Loure, que é o coração da freguesia; a de
Segadães, tem o lugar de Segadães; a da Trofa, tem o lugar da Trofa; a de
Lamas, o lugar de Lamas; a de Macinhata, o lugar de Macinhata; e assim por
diante, poderíamos dizer que, em regra, o lugar onde fica a igreja matriz é o
que dá o seu nome para designar a freguesia. Alquerubim é que não tem um lugar
com êste nome. O que assim se devia chamar, aquele onde está edificada a igreja
matriz, o que poderemos designar por o coração da freguesia chama-se Fontes.
«Alquerubim» existe apenas para designar o conjunto dos lugares que formam a
freguesia que tem êste nome.
Ora isto causa confusão, e como
toda a confusão traz inconvenientes, eu direi que isto devia ser remediado,
para bem do interesse público. Mas, qual remédio, qual carapuça, se são as
próprias entidades oficiais que vieram aumentar a confusão com aquelas
tabuletas que a Junta Autónoma das Estradas semeou à beira destes caminhos, sem
utilidade alguma? Senão, vejamos:
Quem vem para Alquerubim, na
estrada de Aveiro a Águeda, encontra, no cruzamento com a que vem para
Segadães, uma tabuleta, com a palavra «ALQUERUBIM». Está bem, mas estaria
melhor se fosse «SEGADÃES-ALQUERUBIM», uma vez que a primeira freguesia que se
encontra, e que tem categoria igual à de Alquerubim, é Segadães. Quem vem para
Alquerubim pela estrada da Mala-Posta, encontra uma tabuleta com os dizeres
«PAUS-ALQUERUBIM». Aqui está a primeira confusão. Paus é simplesmente um lugar
da freguesia de Alquerubim. No entanto, quem não souber segue o seu caminho, à
espera de vir a encontrar, à distância ali indicada, a tabuleta indicativa de
«ALQUERUBIM», mas assim não sucede, porque tal nome nunca mais o encontra, se
seguir a estrada para Aveiro, atravessando Alquerubim de lés-a-lés, até entrar
no lugar de Pinheiro, da freguesia de S. João de Loure. Diga-se a verdade que a
falta, aqui, é da Câmara de Albergaria-a-Velha, que colocou uma tabuleta na
bifurcação para Beduído, único lugar que assinalou em todo o percurso da
estrada até à igreja, onde a estrada municipal acaba. Desta maneira, o viajante
que entrou em Alquerubim, sem o saber, antes de chegar a Paus, atravessa a
freguesia de Alquerubim numa extensão de cerca de cinco ou mais quilómetros e
sai daqui sem dar por isso, entrando em Pinheiro verdadeiramente apatetado,
depois de haver passado pelos letreiros indicativos de «Calvães», que é um
lugar desta freguesia, e «Pardos», que nem lugar é, visto que constitui uma
parcela do lugar de Calvães.
Para quem vem para Alquerubim de
Albergaria, via Assilhó, depara-se-lhe, na bifurcação para o lugar de Beduído,
pertencente a Alquerubim, a respectiva tabuleta; e ao chegar às escolas, em
pleno coração da freguesia, com a igreja à vista, surge-lhe a placa indicativa
de «ALQUERUBIM». Assim é que estaria bem, se as coisas fossem como deviam ser,
isto é, se o lugar de Fontes, onde fica a igreja, se chamasse «ALQUERUBIM». Mas
infelizmente não é assim. O viajante, aonde acaba de chegar é ao lugar de Fontes, porque em território de
Alquerubim já ele entrou há muito, desde que ultrapassou a linha divisória da
freguesia da Albergaria, que eu, ao longo desta estrada, não sei ao certo onde
acaba, mas que não deve andar muito longe do quilómetro cinco. Por êste lado
vindo de Albergaria, é onde as coisas correm melhor, porque, quem procura
Alquerubim por êsse lado, não tem probabilidades de se perder, a não ser que
venha para Beduído ou para Paus, mas neste caso terá de atravessar a freguesia
pela estrada municipal, metendo ao adro, atravessando o Amial e Beduído, o que
lhe custará entre dois a quatro quilómetros mais de percurso.
Falta outra estrada, a que vem de
Aveiro. Esta é que é a mais embaraçosa. As Obras Públicas colocaram, no sítio
onde acaba a freguesia de S. João de Loure e começa a de Alquerubim, uma
tabuleta com o indicativo «ALQUERUBIM». Muitíssimo bem. Mas este superlativo
cai logo no absurdo, ao encontrarmos, a uns 300 metros, outra tabuleta dizendo:
«PARDOS».
Em calças pardas se viu, há anos,
uma pessoa amiga, que me visitava e veio pela primeira vez a Alquerubim. Viajou
na camioneta da carreira, que chega a Fontes às 13:21, isto no verão, hora de
calor tórrido na estrada de Calvães a Fontes, que teve de palmilhar. Foi o caso
que, ao passar na tal tabuleta que indica ALQUERUBIM, desceu na primeira
paragem. Andou uns passos, e antes que encontrasse alguém que o orientasse,
deparou com a tabuleta de PARDOS. Não tendo visto nenhuma casa onde esperava
encontrar um povoado, informou-se de onde eu morava, e qual não foi o seu
espanto quando lhe disseram que a minha casa ficava em Fontes, a mais de um
quilómetro de distância.
O que lhe valeu foi que era um
homem novo, oficial do exército, habituado às marchas forçadas lá da tropa, o que não impediu que chegasse a minha casa
suando as estopinhas e da cor dos pimentos.
(in Mensagem de 15 de maio de 1960)
António Augusto de Miranda
4 comentários:
Ou me engano muito ou está tudo mais ou menos na mesma.
Também me quer parecer que sim!
pois é😁: Paus 3, Alquerubim 5.
Acho que ainda hoje é assim.
Tiro o meu chapéu ao autor, diverti me a ler algo que é factual, e já lá vão 70 anos, praticamente! A idade da minha mãe! A isto se chama intemporal
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